
Actualmente existe uma maior procura de apoio por parte dos pais de crianças, em idades muito precoces, “desesperados” sem saber como lidar com os seus filhos no dia-a-dia. Tudo em casa “é um problema” difícil de gerir: as rotinas das manhãs (levantar, vestir, tomar o pequeno almoço), fazer os trabalhos de casa, realizar pedidos diversos, ir para a cama e tantas coisas mais. Frases como, “ele é que manda lá em casa”, “tira-me do sério”, “chamo-o mil vezes para vir fazer qualquer coisa”, “o castigo não funciona”, “já experimentámos de tudo um pouco e nada faz efeito”, “parece que faz de propósito”, “parece que não ouve”, etc., são queixas frequentes dos pais. As famílias querem perceber porque é que isto acontece, procuram soluções e pedem ajuda com sugestões e estratégias “milagrosas”.
Em primeiro lugar, é fundamental e necessário explicar a estas famílias que não são as únicas e que muitas vezes os comportamentos mais desajustados dos seus filhos são apenas “chamadas de atenção” mas que, infelizmente são feitas de forma negativa (por exemplo, as birras, não aceitar um ‘não’, fazerem-se de vítimas, culparem os outros dos seus comportamentos, etc.) e não de forma positiva.
É igualmente importante dar a estes pais tempo, ouvir tudo o que têm para dizer e, depois, com eles explorar formas possíveis e fazíveis de intervir na tentativa de minimizar o mal-estar que sentem e ajudá-los a conseguir implementar estratégias de modificação de comportamentos.
“Cada criança é uma criança” e “cada família é uma família”. Não existem “estratégias milagrosas”, mas é possível, com um “trabalho de casa bem feito”, ou seja, com pai e mãe em sintonia e de acordo nas estratégias a aplicar, com objectividade, coerência, continuidade e persistência conseguirem ultrapassar, modificar e melhorar a qualidade de vida dos seus filhos e a dinâmica familiar.
A investigação e a experiência dizem-nos quão urgente é necessário intervir junto dos pais, através de sessões de treino parental – fornecendo sugestões úteis que os possam ajudar a melhorar o comportamento dos seus filhos e a criar um bom ambiente familiar.
Na maioria, as famílias que no seu ambiente familiar se deparam com estas dificuldades têm tendência para cometer alguns “erros” pois, mesmo estando a fazer o seu melhor sentem-se cansadas porque “nada” e “tudo” parece funcionar. É muito frequente que as estratégias/métodos aplicados (ex. “pausas”, “reforço positivo”, “punição”) não produzam a alteração do comportamento desejada e existirem maiores conflitos na relação com a mãe.
Também, de uma maneira geral, estas crianças, apresentam comportamentos, como por exemplo:
• Exigem dos pais uma supervisão constante para conseguirem realizar tarefas;
• Apresentam muita dificuldade em seguir instruções/pedidos;
• Surgem birras intensas com frequência e sem razão;
• Mostram ter uma grande dificuldade em esperar, são impulsivos;
• Perdem com facilidade o interesse de uma tarefa/brincadeira;
• Com frequência esquecem-se do que lhes foi pedido;
• Facilmente desistem e não conseguem terminar as actividades/tarefas.
O treino parental é uma forma de ajudar os pais a saberem lidar com este tipo de situações. Isto porque, aumentando as competências parentais, os comportamentos desajustados das crianças vão diminuindo. No entanto, os pais para o conseguirem têm de necessariamente alterar o seu padrão de funcionamento. Esta mudança dá “trabalho”, nem sempre é fácil, pode não acontecer de um dia para o outro nem os resultados serem imediatos, só tendo efeito a médio/ longo prazo. Podemos estar a falar de um processo exigente e que implica muita dedicação, objectividade, persistência, consistência e continuidade.
Para dar início a este trabalho é necessário informar/educar os pais que lidam todos os dias com os seus filhos sobre: “O que são os problemas de comportamento”, “porque surgem e se mantêm”, “como lidar com” e “que estratégias seguir”.
De uma forma resumida, as estratégias a seguir pelos pais e que são trabalhadas no contexto do treino parental são as seguintes:
• Sempre que possível, satisfaça os pedidos que a criança fizer de forma adequada;
• Estabeleça regras simples, claras e uma de cada vez;
• Negoceie as regras em vez de as impor;
• Associe alguma liberdade às regras e dê-lhe mais do que uma alternativa;
• Em vez de lembrar a criança a toda a hora daquilo que deve fazer, diga-lhe claramente o que quer que ela faça e estabeleça consequências para o não cumprimento das regras;
• Avise a criança das consequências do seu comportamento, de forma calma e controlada.
• Nunca prometa fazer, nem ameace com coisas que não vai conseguir cumprir;
• Não dê atenção ao mau comportamento que a criança manifesta quando é contrariada;
• Dê atenção ao bom comportamento da criança;
• Antecipe os problemas com tácticas de distração (p. ex. antes de sair de casa, diga o que pretende que aconteça);
• Mantenha a calma e, se a calma não for possível, pelo menos não deixe transparecer a irritação ou ansiedade.
Muitos pais quando utilizam algumas destas estratégias para tentar ajustar/adequar os comportamentos sentem-se culpados, frustrados enquanto educadores dos seus filhos, sentem pena e têm medo de perder o seu amor. Estes sentimentos são naturais! Os pais não devem deixar que estes sentimentos os impeçam de ajudar os seus filhos a melhorarem o seu comportamento e a aprenderem os limites. No final, já crescidos, sentir-se-ão agradecidos pelo que fizeram por eles.
E, por fim, tenha sempre em mente que ser pai ou mãe “é a profissão mais difícil do mundo”…
Joana Horta – Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação
CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão
Texto publicado pelo Público a 15/10/2015
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