
O divórcio é hoje uma ameaça cada vez mais presente nas famílias portuguesas e provoca, na maioria dos casos, impacto no funcionamento emocional dos filhos. Mas não tem necessariamente de ser um contexto “infeliz” e o ajustamento deve ser possível, saudável e exequível.
A separação dos pais é considerada uma situação de transição para as crianças e envolve alguns riscos para o seu desenvolvimento psicológico. A situação que se enfrenta após o divórcio envolve perdas, ausências e reajustes que se revelam difíceis para todos os elementos da família.
A chave para a solução implica, pois, a necessidade de um esforço emocional acrescido, de adaptação a uma nova realidade. E a capacidade da criança para lidar com a situação depende muito da atitude dos pais – antes, durante e após a separação.
Por vezes, em determinadas famílias chega a ser um momento de alívio do conflito e dos momentos de tensão que se arrastavam no tempo. Pais e filhos devem por isso (re)aprender a viver e gerir as suas emoções, perspectivando uma reconstrução individual e familiar positiva.
O que fazer? “Já não somos um casal mas continuamos uma família!”
Com alguma regularidade, aparecem nas consultas de psicologia pedidos de ajuda de pais “perdidos” e inquietos sem saber como falar do divórcio aos filhos. Evidentemente, não há receitas. Mas existem vários “ingredientes” que não devem ser esquecidos durante o processo, tais como uma dose de bom senso, uma ‘colherada’ bem cheia de carinho e uma boa porção de respeito pela criança.
É fundamental que os pais procurem informação e aconselhamento especializado para promoverem uma adaptação positiva dos filhos à separação. Importa também clarificar dúvidas e falsas crenças sobre o tipo de abordagem aos filhos. O aconselhamento deve assim informar os pais sobre alguns aspectos que podem facilitar o processo de modo a tranquilizar as crianças, recordando que já não são um casal mas continuam uma família!
Nesse sentido, devem ser os pais a comunicar a separação aos filhos, se possível os dois presentes, apresentando a situação como uma decisão conjunta, sem entrar em grandes detalhes e nunca passar a ideia de que existe a culpa do outro.
Este diálogo em família (de preferência com todos os elementos) deve ser claro e verdadeiro, referindo aquilo que muda e se mantém na vida da criança. Existem alguns elementos a reter nesta conversa: a ideia de protecção, onde a criança precisa de saber que os pais estarão sempre presentes, a confirmação de que ambos vão marcar presença nas suas rotinas diárias (escola, tempo livre, etc) e a continuidade, onde se esclarece que o amor pelos filhos não se alterou e que não existe “divórcio” com eles.
Após a conversa, os pais devem estar abertos a escutar os filhos, dando-lhes espaço para expressarem as suas emoções de acordo com a fase de desenvolvimento e o temperamento de cada um. Valorizar e respeitar os silêncios de cada filho é também uma tarefa que merece atenção necessária.
Após a decisão e conversa com os filhos, os pais devem definir rapidamente um acordo estável, com um regime de distribuição de tempos e visitas adequado às necessidades de cada um. Deve estar contemplada a “nova” rotina diária mas com o mínimo possível de mudanças bruscas, para evitar recorrer à regulação das Responsabilidades Parentais nos Tribunais de Família e Menores.
Ao longo deste processo, os pais devem também considerar o suporte da família alargada e dos amigos, assim como o contexto escolar. O papel da escola deve ser reforçado e os pais devem informar os professores e outros intervenientes educativos, de forma a estarem atentos a possíveis “sinais” de instabilidade que se possam traduzir, tanto na aprendizagem como no relacionamento interpessoal na escola.
Joana Macedo – Psicóloga Clínica
CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão
Texto publicado pelo Público a 23/12/2015
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