2016/12/11 – Como se gere o natal de pais separados?

“Quando os pais se separam, a festa da família complica-se, mas não tem de ser assim. Com afeto e bom senso, é possível multiplicar em vez de dividir. A bem das crianças.”

O NATAL DO PAI… O NATAL DA MÃE…


A época do Natal é a quadra familiar por excelência… Nenhuma outra festa religiosa ou pagã alimenta desta forma o espírito e a união familiar, sendo nas culturas ocidentais um ritual muito importante, transgeracional, no sentido que envolve diferentes gerações e perpetua tradições antigas, e com enorme simbologia…
Enquanto Ritual estruturante para a família e para os seus elementos, marco da história e cultura de cada núcleo, as festividades ligadas ao Natal remetem para sentimentos muito fortes de união, de partilha, de alegria, de reencontro, de aproximação. É uma experiência fortemente simbólica, única em cada família e para cada elemento da família.

Quando falamos em “famílias divorciadas”, os sentimentos que se vivem nem sempre são estes. Sobretudo, nas que estão recém-divorciadas, à procura de uma nova organização, de um novo equilíbrio, até de uma nova identidade, o que se vive pode ser contraditório com o que se esperava, o que se sente pode ser o oposto ao que se deseja sentir nesta quadra.

O paradoxo instala-se: o simbolismo do Natal choca com os processos psicológicos do luto. O espirito de união contra a desagregação que as famílias separadas e divorciadas têm de resolver.

Os pais, mãe e pai separados ou divorciados, podem viver momentos de angústia, ansiedade ou tristeza pelo facto de se terem que separar dos filhos numa altura em que sempre viveram maior proximidade, de terem que dividir esse tempo com outros, quando seria suposto estar mais tempo em família…Procurar um novo Natal que substitua os anteriores e que se transforme num novo Ritual Familiar… Com os mesmos significados…

Os filhos, entre o real e a fantasia, imaginam o melhor Natal possível, sonham com a família como um todo, com os Natais de antigamente, com a pai e a mãe juntos e alegres, alimentando a esperança de que os seus pais podem voltar a estar juntos para que a família se reúna novamente. Mas vivem os esquemas dos adultos: onde se passa a consoada e com quem é o almoço de Natal, este ano assim no próximo ao contrário… Perdeu-se a família nuclear e há que se desdobrar por “diferentes” famílias, umas suas outras “emprestadas”.

E quebram-se as ligações com a história, e deixa de se ver os primos e os tios mais afastados que o Natal trazia para nossa casa. E as lágrimas da mãe e do pai trazem mais confusão sobre sentimentos de lealdade: que lado escolher e para onde ir num dia ou outro, quem fica mais triste, como corresponder a um e a outro se agora estão em pontos opostos…

Tal como noutras adaptações das famílias aos divórcios, a qualidade da comunicação entre mãe e pai, ex-casal, e dos pais com os filhos, é fundamental. Tendo esta data um significado especial para as famílias, um planeamento cuidadoso é essencial.

É fundamental que os pais, sobretudo os pais, ponham o ênfase do Natal nas relações.

É verdade que a família nuclear se alterou, mas a família alargada é a mesma, do lado materno ao paterno, e é neste contexto familiar alargado que se devem procurar os significados inerentes ao Natal.

Os filhos devem ser ouvidos. Antes do Natal, percebendo as expectativas da criança, respondendo aos medos e às angustias, entendendo os conflitos internos dum filho entre dois pais. Depois do Natal, dando espaço às crianças para expressarem as suas emoções, positivas e negativas, retirando ilações para a quadra seguinte ou para outros momentos semelhantes.

Os elementos de referência para o Natal da criança devem ser identificados. Tal como o presépio não é só o menino e os pais, o Natal das crianças também precisa de outros elementos para ter mais sentido: os avós, os irmãos, os meios e os emprestados, os tios, os primos, a madrasta e o padrasto… Os “velhos” familiares de sempre e os “novos”…

Evitar colocar as crianças perante escolhas emocionalmente difíceis é fundamental. Depois de ouvidas, as crianças sobretudo as mais pequenas, precisam de pais que assumam e definam de forma consciente e orientada para o bem-estar dos filhos. Muitas vezes, nesta difícil gestão, é fácil os filhos ficarem a sentir que os problemas, os conflitos, são culpa sua… Nada mais injusto, nada mais traumático. Ninguém tem culpa de um amor que acaba, de incompatibilidades, de laços que se rompem. As separações e os divórcios não são por si, traumáticos. Mas alguém tem culpa se as crianças acabarem no meio duma guerra de adultos.

Os rituais são importantes e os rituais constroem-se e adaptam-se. Um pai ou uma mãe que sabe que não vai passar a noite de Natal com os filhos podem antecipar o seu, o “nosso”, Natal. Passa a ser na semana antes, convidam-se os avós e abrem-se os presentes que não chegam ao sapatinho…Vamos todos ao teatro ou a um concerto de Natal. Fortalece-se a identidade familiar. Afastam-se os medos.

Rui Martins – Psicólogo Clínico e Terapeuta Familiar
Joana Veiga de Macedo – Psicóloga Clínica

CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão
Texto publicado pelo Notícias Magazine a 11/12/2016

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