2016/12/18 – Maria, José e o menino: o nascimento do primeiro filho

O dia de Natal, festa cristã santificada, é amplamente festejado por todos, mais ou menos católicos, mais ou menos religiosos, transformando-se numa época de celebração da família, da união e dos afetos.
Apesar do aparecimento de novos ícones natalícios como o Pai Natal e a Árvore enfeitada, a “sagrada família”, Maria, José e menino Jesus, mantém um papel de destaque na celebração da quadra e a presença do presépio, mais ou menos modernizado, ajuda a recordar que o Natal, que significa nascer, celebra o nascimento de um menino. 
O Natal é por isso a história de um casal que, no seu ciclo de desenvolvimento familiar, inicia uma nova fase: a fase correspondente à família com filhos pequenos.

A Família com filhos pequenos
O ciclo vital da família corresponde a uma sequência de fases previsíveis pela qual as famílias nucleares tendem a passar no seu processo de crescimento e desenvolvimento. A fase da família com filhos pequenos sucede à fase de Formação do casal e é anterior à Entrada dos filhos na escola.

Quando dois se transformam… num turbilhão!
O nascimento dos filhos, sobretudo do primeiro, não é apenas acrescentar ao casal que já existe mais um elemento. 
A conjugalidade tem de encontrar espaço para encaixar a criança-bebé e o equilíbrio anterior dos dois em relação, dos dois a viver juntos, dos dois mais as famílias de origem, é afetado e ferido de morte: não é possível retomar esse equilíbrio. É preciso encontrar um novo.
O bebé entra num espaço entre a mãe e o pai, entre mulher e homem, fundamental para o seu desenvolvimento saudável, para a sua vinculação segura, para a sua relação com o mundo, e precisa, tanto como de amor, de pais e mães capazes de impedir relações fusionais, em que bebé e mãe (quase sempre) perdem a sua diferenciação, ou desligamentos graves (entre o pai e o bebé ou entre pai e mãe) difíceis de reparar.

Os novos papeis Parentais
A presença de um filho altera as rotinas e as tarefas familiares e individuais dos pais. Lutar contra estas alterações, não aceitar que é preciso mudar, implica que um dos elementos acabe sobrecarregado, insatisfeito e desiludido. Atingir um equilíbrio satisfatório, para todos, implica uma partilha das novas tarefas e das novas responsabilidades. Socialmente, têm sido implementadas medidas para que mães e pais tenham os mesmos direitos em relação à maternidade. Para que tenham as mesmas responsabilidades é preciso alterar mentalidades…
Do ponto de vista psicológico, o pai tem de ser Pai: tirar o bebé dum colo materno demasiado apertado, alimentar, cuidar, adormecer, acordar, (adormecer outra vez para voltar a acordar!), ligar-se emocionalmente e criar condições para que a criança se vincule também a si. Tem de ser de confiança: para o bebé e para a mãe.
A mãe tem de ser… uma Mãe que liberta, uma mãe que entende o desenvolvimento do seu filho enquanto processo de autonomia progressiva e que sendo presente, próxima e investida, se apoia na confiança que o pai transmite para conseguir ser pessoa e mulher, sem se perder na maternidade.

Como conciliar a Parentalidade com a Conjugalidade?
Tanto a Conjugalidade como a Parentalidade são afetadas por mitos e estereótipos que acabam por criar expetativas irrealistas e culpabilidade. Nesta fase em que, pela primeira vez, estas duas dimensões se cruzam é fundamental que o casal reforce a comunicação. É importante que cada um encontre forma de dizer ao outro o que precisa, o que estava à espera, o que está a correr bem e o que está a correr mal.
A existência de sentimentos contraditórios em relação a parentalidade é normal. Ter um filho também é deixar de ter outras coisas: ganhamos e perdemos, por isso é bom e mau. Chegar a um novo equilíbrio saudável implica sentir que o que entra na nossa vida é mais importante do que o que sai.
Os primeiros tempos da parentalidade implicam uma grande orientação para este núcleo a três (e depois a quatro, cinco…se nascem outros filhos) mas progressivamente deve surgir espaço e tempo para:
– o Casal, reinvestindo do ponto de vista amoroso e sexual, 
– o Individual, para o que cada um precisa fora deste núcleo, incluindo o campo profissional, 
– e para o Exterior, retomando ou encontrando atividades com outros elementos fora da família.
Promover a autonomia das crianças, para que consigam estar só com a mãe, só com o pai, ou com outros elementos da rede social, avós, tios, amigos que são tios ou babysiters, permite encontrar o espaço e tempo para este complexo equilíbrio de necessidades.

E quando se consegue este Equilibro? Entrada dos Filhos na escola e inicio da adolescência de seguida! Ninguém disse que seria fácil, mas pode ser muito bom.

Feliz Natal!

Rui Martins – Psicólogo Clínico
CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão
Texto publicado pelo Público a 18/12/2016

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