2020/06/07 – O autismo e o orgulho

No dia 18 de Junho celebra-se o “Dia do Orgulho Autista”. Um dia dedicado à celebração da neurodiversidade e das caraterísticas únicas das pessoas com esta perturbação.

Fica por referir que estas caraterísticas únicas comprometem a comunicação e o bem-estar desta população, que frequentemente luta por oportunidades laborais, educacionais e sociais que todos nós tomamos por garantidas. Quando nos orgulhamos do Autismo, estaremos a orgulhar-nos destas dificuldades? Estaremos a menosprezar estas caraterísticas ao tomá-las como traços de identidade, esquecendo-nos da sua origem como perturbação?
Uma das premissas do “Dia do Orgulho Autista” é a ideia de que as pessoas com Autismo não são doentes, mas sim que as suas caraterísticas são únicas. No entanto, o próprio nome de Perturbação do Espetro do Autismo sugere as dificuldades e sofrimento que daí advêm, sendo insensato diminuí-lo ao ponto de “particularidades do indivíduo”. Ao fazê-lo, esquecemo-nos de tudo aquilo que as pessoas com Autismo atingem apesar da sua perturbação, ignoramos todos os esforços feitos para aumentar o bem-estar e sucesso desta comunidade e diminuímos o esforço que fazem para atingir os seus objetivos apesar das suas dificuldades.

A celebração da diferença passa por elevar os sucessos das pessoas apesar da mesma, e não pela normalização das suas dificuldades, e aí há muito motivo para orgulho.

Sendo a Perturbação do Espetro do Autismo caraterizada por défices persistentes na comunicação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, existem vários marcos para a pessoa com Autismo e para os técnicos que com ela trabalham que são motivos de orgulho. Sempre que uma pessoa com Autismo ultrapassa o sofrimento que lhe causa a interação social e interage com sucesso, sempre que consegue reunir esforços para entrar no mercado de trabalho ou ir à escola todos os dias, apesar da sua perceção do mundo ser tão diferente da nossa, há um motivo de orgulho sem igual. Sempre que alguém deixa o preconceito de lado e olha para uma pessoa com Autismo como para si mesmo, há motivo de orgulho.

Não deveria ser necessário um “Dia do Orgulho Autista” para que todos nós olhássemos para a pessoa com Autismo como um ser humano com valor e motivos de orgulho. Deveria estar implícito nas regras de convivência básica. Mas se assim for necessário, que esteja sempre presente que a Perturbação do Espetro do Autismo se manifesta de formas totalmente diferentes de indivíduo para indivíduo, mas não o define.

Se há orgulho em ter Autismo? É incerto, pois o orgulho deveria advir do que alcançamos, e não daquilo com que nascemos. Seria como ter orgulho em ser loiro. Mas certamente há orgulho em ser humano, ter defeitos e qualidades, ser único e atingir objetivos e metas lado a lado com esta perturbação.

Beatriz Carvalho – Aluna de 5º ano no Mestrado Integrado em Psicologia e Estagiária no CADIn
CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão
Texto publicado pelo Público a 07/06/2020

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