2023/06/04 – O Verano Azul e os Exames Nacionais

Em Verano Azul, serie televisiva dos anos 80, Bea, Desi, Quique, Piraña, Javi e Tito vivem, na Costa do Sol, aventuras de Verão, com amores e desamores, encontros e desencontros que os ajudam a crescer. É o verão dos livros, das séries, dos desejos adolescentes de “aproveitar e viver o verão”, como dizem os jovens, também atualmente, em consulta. Hoje a ansiedade e o medo são tão fortes que parecem contrastar, fragmentados, com o desejo e o sonho. Como se as tarefas adolescentes fossem apenas estudar, preparar um possível futuro, defender-se da hipótese do erro e da falha.

Adolescentes paralisados, bloqueados, numa espécie de burnout académico, dificilmente compatível com um verão azul e uma vida colorida. Adolescentes que afirmam sentirem-se sós, num processo avaliativo que imaginam definir completamente a sua vida futura. Sentem uma pressão avassaladora (muitas vezes desistindo a meio do caminho), vivem, em competição, a ausência da camaradagem do grupo. São, também, os dias aborrecidos de verão, dias longos de sol até tarde, de nadas em compromisso, que ajudam a criar, pois é do vazio que se constrói algo.

Parece que não há tempo para este vazio criativo, permanecendo na tensão pré- exame ou na espera ansiosa de resultados. E como podem os pais acalmar os filhos neste período conturbado? Acreditar que o desempenho dos filhos não avalia os pais: um filho não é um prolongamento dos desejos dos pais. Saber que um filho é uma pessoa livre: de sentimentos, de desejos, de ambições. É essa a beleza da vida: construir diferente e observar essa construção como um mar grande de possibilidades. Ainda, assim, observar o filho como uma pessoa frágil: necessitada de apoio e segurança, apenas possível de alcançar com amor, coragem e esperança.

A determinação e a motivação surgem da segurança das aquisições anteriores. Ajudar o filho a expressar os seus medos e preocupações: numa presença calorosa e empática, distante do fazer em vez do filho. Estar presente é o melhor que os pais poderão fazer. Ajudar a estabelecer uma rotina equilibrada (emocional e social): é essencial para ajudar os filhos a lidar com o stress dos exames. Ter tempo adequado para estudar, descansar, praticar atividades físicas e socializar. Encorajar a fazer pausas regulares: lembrar que descansar é tão importante quanto estudar. Fazer pausas para recarregar energias e colmatar o stress. Fornecer um ambiente de estudo adequado: criar um ambiente propício ao estudo em casa. Um ambiente organizado e adequado contribuirá para a concentração e para a produtividade. Não é assim consigo? Incentivar hábitos saudáveis: Lembrar os filhos da importância de cuidar da saúde sempre e mais ainda, durante um período stressante- ter uma alimentação equilibrada, dormir o suficiente e praticar atividades físicas regularmente.

Hábitos saudáveis fortalecem o corpo e a mente, ajudando a reduzir a ansiedade e a aumentar a capacidade de concentração. Mostrar apoio incondicional: fazer com que o filho sinta que o seu amor e apoio são incondicionais. Reforçar constantemente que o seu valor não está nas notas dos exames, mas sim no seu esforço, dedicação e crescimento pessoal. Mostrar que está ao seu lado, independentemente dos resultados, e que a sua felicidade e bem-estar são prioridades. Celebrar e reconhecer pequenas conquistas ao longo do processo de preparação para exames.

A ideia de autorregulação organismica, desenvolvida pelo neurofisiologista Kurt Goldstain (e usada na psicologia Gestalt) devolve a cada um a capacidade de olhar para dentro, conseguindo identificar o que precisa em cada momento, através de ajustes que fazemos entre eu e o que nos rodeia e envolve. O crescimento é isso mesmo, a capacidade de ir ajustando novos conhecimentos e mudanças: um Verano Azul em movimento. Deixo a canção Those Lazy, Hazy, Crazy Days Of Summer; de Nat King Cole, (https://www.youtube.com/watch?v=7OZrNDtRltg) sobre os dias preguiçosos, nebulosos e loucos de verão, num desejoso caloroso de Boa Sorte a todos: aos jovens e aos pais para que, juntos, co-construam, criativamente, uma vida feliz.

Helena Raposo – Psicóloga/Psicoterapeuta
CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão
Texto publicado pelo Público a 04/06/2023

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